…Era Dezembro, bem perto do Natal, em que muitos o têm todos os dias, alguns nem tanto, outros nunca. E nunca o António o teve, teve sim, muitas bocas famintas em casa para alimentar, e tantas vezes com côdea de pão, acompanhado com sonhado suculento bife, no interior de vazio pão. E pão foi pedir em esmola de precisão, e tão cansado da fartura de tanta fraqueza no seu esquelético corpo,que inanimado caiu no chão que tantas vezes lhe serviu de colchão, mas agora não, era mesmo sem intenção,o mesmo pensava seu débil coração. Imóvel como se de morto fosse o facto, e como tal facto consumado, gentes feitas de nada, e do nada,ou talvez de inania, apressadas e indiferentes contornavam aquele corpo como se de uma beata que cinicamente se benze dúzias de vezes, e também cigarro mal apagada fosse, e não fossem “queimar” a postura de altivez e estupidez se debruçassem por alguém que nada lhes dizia, tanto na vida, como em vida. E o tempo passou sem que nada de novo se passasse, continuando a vida da vidinha de gentinhas, e o corpo ali inerte, de si não dava vida, mas ainda teria vida, vivida e bem em tempos idos, não agora ali no chão sujo de tantos pés bem calçados de sapatos de verniz, comprados e feitos à custa e conta de tantos desprovidos da sorte, também daquele infeliz talvez, que descalço estava, pois de sapatos só restava duas guitas que serviram de atacadores, a tão atacados pés com frio.
Chovia copiosamente, e que jeito dava aquelas gente indiferentes que passava como se nada se passasse, que ao abrigo de quentes gabardinas e aconchegantes cachecóis, cobriam a cara da vergonha, idem os olhos em curtas vistas, para que da desgraça alheia se alheassem ao quase morto desafortunado da fortuna, pelo frio cortante e enregelante de impiedoso tempo,que a destempo o apanhou desprevenido, da total ausência de migalha que fosse em estômago seu, para que em força desumana se erguesse em réstia de humano, e humanamente se abrigasse e se acabasse condignamente…e a intempérie terminou, e terminou também o sofrimento daquela pessoa que gentes não o consideraram gente…António, jaz! Também que pena algumas possoinhas o estivessem, que essas sim, andam por cá sem sentido, apenas e só com o sentido de nada sentirem, o sentido sofrimento dos que o sentem…!
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14 comentários:
As pessoas estão cada vez mais egoistas e insensíveis ao sofrimento alheio.
Não entendem que podem acabar na mesma situação e que essa desunião vai acabar por nos derrotar a todos, frente aos que querem ser donos e senhores do Planeta.
Bjos
Gostei imenso da narrativa, uns quantos o não vão gostar,aqueles que contribuem para este estado de situações,os mesmos que beaticamente se benzem dúzias de vezes,e pecam tantas quantas se benzem.Adorei imenso !
beijinho
Texto realista, carregado de verdade, espelho do tempo em que vivemos.
Estás atento, sempre, com o teu modo peculiar de escrever.
Beijo
"Também que pena algumas possoinhas o estivessem, que essas sim, andam por cá sem sentido, apenas e só com o sentido de nada sentirem, o sentido sofrimento dos que o sentem…! "
Uma realidade cruel esta que nos mostras através de um texto soberbo, um dos teus melhores.
Se há coisa que me emociona é ver a indiferença( principalmente nas cidades onde acho que é mais gritante) perante a miséria dos outros que um dia pode ser a nossa.
Beijinhos
Texto poético e muito verdadeiro.
Será que a rua parou para acompanhar a remoção de mais um? Pois na estatística é apenas mais um.
BeijooO*
nunca jamais em tempo algum se olhou tanto para o nosso umbigo.
kis :=)daqui deste lado do mar
Vítor,as palavras,as nossas palvras,as tuas, são a força dos que passam incógnitos e desprezados por esta sociedade em que vivemos,os que não têem voz.Tu a dás e de que maneira a tantos,que nem em sonhos sabem que o fazes...e continua a fazê-lo,nessa tua maneira invulgar e deliciosa de escrever,mas que sabe tão bem compreender porque o fazes...és diferente.
B.A.
Nós pecamos quando nos benzemos e quando nos não benzemos. Somos seres dotados de uma imperfeição que custa a engolir, mas que está lá, todos os dias. Felizmente, de quando em quando, somos abanados por um sopro de compaixão e debruçamo-nos mesmo sobre aquele que sofre. Escrever este texto é uma das muitas formas de ajudar a não deixar de ver.
Obrigada, Vitor, e um grande abraço!
Meu amigo:
Se puderes aparece lá nos 5 minutos e participa num pequeno desafio que lancei para animar este Natal.
Beijinhos e bom fim de semana
De facto Vitor, tal como diz a Isa, o mundo, de uma maneira geral, está cada vez mais indiferente ao sofrimento alheio, e quando não está indiferente, está no gozo, no deboche.
Beijo.
Tem bom domingo.
Infelizmente, cada vez mais se vê mais Antónios por aí, e cada vez se nota mais insensibilidade, principalmente da parte dos nossos governantes.
O nosso Papel será estar atentos e minimizar no que podemos as situações criticas de todos os Antónios.
Continuas frontal e directo.
Um abraço forte deo teu irmão
...é bom encontrar ainda quem não consiga deixar de olhar e ajudar o seu semelhante, quem se preocupe com quem perdido por alguma razão se entregou ao infortúnio...Vitor, continua assim, sensível...essa, é uma característica que nem toda a gente deixa que se desenvolva dentro de si...um beijo desta tua amiga
extrema sensibilidade ... encruada :) real
gostei
bj Vitor
teresa
Victor Victor,com essa maneira invulgar de escrever e deliciando-nos cada vez mais,com as tuas fenómenais histórias.
És um homem de extrema sensibilidade, bondade e de um coração de ouro,bem hajam homens como tu.Ai se todos fossem como assim o Mundo seria bastante diferente.
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